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RESPECT THE CHEMISTRY

Jesse e Walter SEUS LINDOS.

Já fazia tempo que eu estava procurando um seriado pra chamar de meu. Algo arrebatador, viciante, sabe como é. Só que nada me parecia atraente. TBBT? Não, obrigada. Glee? Até tenho curiosidade, mas sei lá. Two and a half man? Me recuso.

Daí que surgiu Breaking Bad. Rapaz. Olha. Vou te contar. Um espetáculo. Sou só elogios: atores e roteiros ótimos, fotografia linda de morrer, história bacana. A série foi criada por Vince Gilligan, um aquariano pacato do interior dos Estados Unidos que fica fofo dando entrevistas. Enfim. Salvou minha vida.

A espinha dorsal do seriado é bem simples: um professor de química decide se envolver na produção de drogas; nisso, ele meio que se “associa” a um jovem traficante da cidade. Blá blá blá. Até aí, tudo bem. A coisa vai tomando forma.

Num primeiro momento, você até pode pensar que os episódios vão andando, enfileiradinhos. Prezando a “evolução” da trama, ou seja, a transformação do professor de química num “grande” produtor de drogas. Mas não. Vince Gilligan não acredita em evolução. Eu também não. Eu não acredito em evolução. É sério. Ainda bem, Vince, que você não acredita em evolução e que por isso conseguiu fazer da história de Breaking Bad algo totalmente quebrado, sem sentido aparente e enrolado. Um emaranhado de situações que dão errado. Absolutamente pra todo mundo. Ganha-se aqui, perde-se ali. O seriado se baseia não numa linha reta, mas sim numa espiral doida. Que vai e volta, como toda boa espiral deve fazer.

Ah, existe um outro negócio no seriado que salta aos olhos. Breaking Bad tem uma narrativa meio sossegadona. Há cenas de “ação”, claro. Mas as pessoas aparecem de vez em quando MATANDO TEMPO. Olhando pra piscina, sentados, pensando, esperando num banco de praça. You fritter and waste the hours in a offhand way. Acredito, inclusive, que isso do “fazer nada” reflete um pouco o universo tocado pela história… Então. Enfim. That´s messed up. That´s Kafkaesque.

SEINFELD, TOP 5

Julia, Larry e Jerry literalmente morrendo de rir.

Então. É o negócio mais difícil da minha vida esse de fazer um top 5 melhores episódios de Seinfeld.

Mentira, não é, não. Eu sempre penso nisso e já mentalizei um perfeito “ranking seinfeldiano definitivo campeão” milhares de vezes na minha cabeça. O problema é que as colocações e as preferências mudam de vez em quando, sabe. De acordo com a fase que estou vivendo e tal (oi).

Seinfeld é um seriado assim. Moldador de caráter. Eu já passei por fases deprimidas vendo Seinfeld, já vi Seinfeld nos momentos mais alegres da vida, nos momentos workaholics, nas férias, nos feriados, nos dias de carnaval, na tarde de 01 de janeiro (o dia mais preguiçoso do ano, né). Já passei madrugadas vendo e revendo episódios. Aliás, já passei madrugadas inteiras fofocando sobre Seinfeld. Já desejei ardentemente ter sido roteirista de Seinfeld (haha) e queria ser amiga da Julia Louis-Dreyfus. Queria também ter um telefone preto igual ao do Jerry. Enfim. Seinfeld é um assunto que nunca morre. Melhor ainda, é um seriado que nunca morre. Here we go.

Quinto lugar: The soup nazi (7a. temporada)
“Whaaaat. Você começou seu top com o episódio mais clichê.” Tudo bem, pode até ser clichê. Todo mundo já ouviu a frase NO SOUP FOR YOU! milhares de vezes. Mas acontece que esse episódio é um show de roteiro. Escrito por Spike Feresten. Todos os personagens estão bravos, gritando (o que é muito comum em Seinfeld), todo mundo nervoso.Todo mundo precisa aprender a maneira correta de comprar SOPA. “Just follow the ordering procedure and you will be fine.”

Quarto lugar: The chinese restaurant (2a. temporada)
Escrito por Larry David e Jerry Seinfeld. Uma história muito, muito diferente. Tudo se passa na ” fila” de espera de um restaurante chinês. Jerry, George e Elaine ficam lá, esperando por uma mesa que nunca chega. Morrendo de fome e falando besteiras. É mais ou menos a mesma fórmula usada posteriormente em “The dinner party” (o meu segundo lugar), algo bem bom. É uma pena que Cosmo Kramer não apareça nesse aqui. “I just can’t believe at the way people are. What is it with humanity? What kind of a world do we live in?” Pois é, George.

Terceiro lugar: The strike (9a. temporada)
Escrito pelos moleques Alec Burg, Jeff Schaffer e Dan O’ Keefe. Um clássico sem tamanho. É aquele lá do Happy Festivus. Aqui, temos acesso a toda a loucura da família de George Constanza. Se não me engano, o único episódio ambientado no Natal. “Protect Festivus! Hey, no bagels, no bagels, no bagels.”

Segundo lugar: The dinner party (5a. temporada)
Um episódio perfeito. Esse é do Larry David. É engraçado porque a história é muito simples e, ao mesmo tempo, repleta de acontecimentos. Os quatro se separam a caminho de um jantar. Jerry e Elaine vão a uma padaria; George e Kramer, a uma loja de bebidas. E é isso. Eles nem chegam a entrar no tal do dinner party, simplesmente porque tudo (de errado) aconteceu no caminho. É nesse episódio também que Jerry vomita. E a gente bem sabe, hein. Que ele passou 14 anos sem vomitar. Um recorde que eu sempre penso em tentar alcançar. “I haven’t thrown up since June 29th, 1980.” Sim, eu te entendo, Jerry.

Primeiro lugar: The opera (4a. temporada)
Escrito pelo barbudão Larry Charles. Os episódios dele sempre apresentam algo muito, muito destoante, elementos super diferentes que jamais caberiam em uma comédia tradicional. Larry Charles mistura comédia com assassinatos, crimes, tragédias. Pessoas deprimidas e chorando podem surgir a qualquer momento numa história do Larry Charles e você vai achar normal. É nesse episódio que o stalker e psicologicamente desequilibrado personagem crazy Joe Davola reaparece em toda sua glória. Stalkeando Jerry e Elaine. É tão interessante e engraçado. Diferente, mesmo. A ideia do stalkeamento e da tragédia iminente se entrelaçam na comédia de forma perfeita e você fica lá, meio que rindo da pimenta nos olhos dos outros. Eu inclusive DECOREI alguns diálogos desse episódio. “I developed them myself in my dark room. Would you like to see?” “In the dark room? Uh no, no thank you. Not right now. I’m a day person!”. Super te entendo, Elaine.

*Nota: Esse site aqui é um espetáculo. E me ajudou muito na elaboração do post.

The fab four.

SOBRE PAUL AUSTER E GUIDED BY VOICES

O grande Paul Auster.

Que tipo de música você gosta de ouvir enquanto está lendo um livro? Qual a melhor trilha sonora para aquele momento sagrado da leitura? Eu estava pensando nisso hoje no caminho pro trabalho e agora, sentada com o notebookzinho no colo, me lembrei de uma duplinha de ouro. O grande Paul Auster combinado com o grande Guided by voices.

Paul Auster é realmente um grande nome. Escritor experiente, mago da ficção combinada com pitadas autobiográficas, um belo fumante, dono de olhos misteriosos e extremamente cool. Mas extremamente mesmo.

É bastante comum, para aqueles que querem começar a ler Paul Auster, pegar A trilogia de Nova York logo de cara. Eu também acho um bom ponto de partida e aconselho. Mas, com o tempo, a gente começa a perceber que a trilogia não é seu livro mais marcante. É um bom ponto de partida mas não é a essência. Paul escreveu outras obras, contos e romances, tão ou mais interessantes que a trilogia. As décadas de 80 e 90 foram bem produtivas para Paul. Mas enfim. Paul Auster é um escritor que merece ser descoberto com carinho e com paciência. Existe, por exemplo, todo um universo relacionado ao cotidiano das pessoas “médias” dos Estados Unidos no texto de Paul Auster, desenvolvido com um método bem eficaz de “a história dentro da história dentro da história dentro da história”. Na maioria das vezes, chega uma hora em que você já não sabe se aquilo que se passa na trama realmente está acontecendo com o personagem. A coisa toda evolui pro quase nonsense, pro irreal, pro subjetivo.  Eu te garanto, assim que você começar a explorar livros lindos dele como A invenção da solidão e O livro das ilusões, você vai perceber tudo isso aí.

E o mais interessante é que mesmo os seus livros mais recentes (dos anos 2000 pra cá) são muito, muito bons. O mais novo se chama Invisível e é uma pequena joia. Foi justamente lendo Invisível que eu descambei a retomar o som do também belo e extremamente cool Guided by voices. Na época, eu estava me reaproximando de um disco deles de 1995, chamado Alien lanes. E rapaz. Que discão. Eu fui fuçar uns videozinhos do Guided no Youtube e li um comentário tocante, com o qual me identifiquei: a pessoa comentava que explorar Guided by Voices “it’s like hearing your neighbour’s radio and he’s changing station everytime your favourite song starts”. Na verdade, a pessoa se referia à forma simples como o Alien lanes foi gravada, quase que (na minha opinião, pelo menos) totalmente caseira  – daí a sensação de escutar o rádio de seu vizinho -, e às músicas de pequena duração. A maior parte das canções de Alien lanes dura um minuto, um minuto e meio, às vezes menos de um minuto. Músicas perfeitas e breves. E o melhor: os discos do Guided em geral têm 28, 30 músicas.

A cabeça por trás do Guided by voices é o senhor Robert Pollard. Pollard é um criador incansável, pra mim quase um mito. E ex-professor, believe it or not. A discografia do Guided é imensa (eu já contei quase 70 discos, entre EPs, discos inteiros, discos ao vivo; olha esse site aqui). E o senhor Pollard lá, sempre compondo, firme e forte. Comece ouvindo Alien lanes, de 1995. Depois vá para Bee thousand, de 1994. Em seguida você pode ouvir o belíssimo Devil between my toes, de 1987. E por aí vai. Não esquece do Paul Auster pra combinar. ; )

O grande Bob Pollard.

VERSÕES LEGAIS

por Renata Consegliere

Tudo começou na semana passada, quando eu fiquei amando aquele menino lá. O Greyson Chance, que cantou Paparazzi num festival de escola. O mais fofo é que ele deve ter uns treze anos, exatamente a idade do meu sobrinho mais velho. Lagriminhas, blá blá blá.

O fato é que depois de admirar o talento do moleque e de ouvi-lo milhares de vezes no repeat, comecei a nerdear e a garimpar outras pérolas. E encontrei pessoas interessantes fazendo versões (covers?) de músicas bacanas. Isso, óbvio, tem aos milhares e não é nenhuma novidade. Desde sempre todo mundo faz filminho de si próprio tocando as canções que mais adora e etc.  Mas esse acabou sendo o meu esporte preferido da semana: a busca por versões legais feitas por anônimos. Naquele clima bem WEBCAM, mesmo. Caseiro. Começo dos anos 2000 e tal.

Vou colocar as minhas três preferidas do momento aqui: duas meninas cantando Neutral Milk Hotel (Two headed boy part. 2 e Holland, 1945) e dois moleques cantando Breeders (Cannonbal). As duas meninas me impressionaram porque elas mudaram a velocidade das respectivas músicas: uma delas, que originalmente é mais devagar, ficou bem mais rápida na versão cover. E vice-versa. O resultado, das duas, ficou bem bom. Admito que gosto muito da versão que os moleques fizeram de Breeders porque eles travam uma “conversinha” antes de começar a tocar, é engraçado.

:**

1986 FEELINGS

por Renata Consegliere

Eu não entendo absolutamente nada de futebol, meu amigo. Nada. Tenho um time do coração, porém: Palmeiras. Só que não faço a menor ideia do que acontece com o verdão. Se você me disser que o Palmeiras está disputando uma vaga no quadrangular da terceira divisão pelo paulistinha de várzea e vai jogar contra a Ferroviária, eu acredito. Acredito e até sou capaz de torcer pelo verdão em pensamento. Enfim. Sou um zero à esquerda. I couldn’t care less etc.

Mas em ano de copa do mundo a coisa muda de figura. Quase todas as copas, pra mim, sempre foram bem animadoras. Assisto a todos os jogos possíveis e até consigo deixar de balbuciar incoerências por alguns segundos e fazer comentários concretos, do tipo “nossa, aquele jogador REALMENTE estava impedido, foi uma boa observação do juiz”. Acompanho as rodadas, preencho tabelas (\o/) e mostro apoio incondicional a todo e qualquer tipo de decoração futebolística nos mais variados ambientes. Especialmente em padarias. Até coleciono figurinhas e blá blá blá. É como se eu me transformasse em um mutante.

Já deixei de tentar encontrar sentido nessa magia irracional que a copa do mundo exerce sobre minha pessoa. Acho que é uma mistura de pertencimento a um todo com algumas boas lembranças de infância. Soma-se isso ao clima legalzinho instaurado no trabalho, a ótimos blogs que passam a escrever sobre o assunto e temos aí algumas semanas de pura diversão.

A copa que mais me marcou, na vida, foi a de 1986. Eu tinha oito anos. E fiquei completamente obcecada com Diego Armando Maradona. Era incrível. Se você também acompanhou a copa de 86, deve se lembrar da sensação de ver Maradona correndo pelo gramado. Sozinho. Driblando a tudo e a todos. Girando, muito, muito rápido. Voando em direção ao gol. Maradona é o jogador que eu mais admiro (como se eu fosse capaz de conhecer a fundo a carreira de outros jogadores, pff). E devo dizer que toda a vida pessoal maradonística também me atrai, muito: sua esquisita ligação com a máfia napolitana, seu envolvimento com dörgas, seus períodos de depressão, a passagem pelos milhares de clubes europeus, suas idas a Cuba. Maradona devendo dinheiro pra Deus e o mundo, sonegando impostos. Maradona ganhando peso. Maradona tatuado.

Maradona é o tipo de jogador que tem vida. Ele exala vida por todos os poros. Pra quem viu nascer uma geração de jogadores politicamente corretos, especialmente a partir dos anos 90 – jogadores extremamente saudáveis, jovens, com carrão, que fazem dieta e são mal vistos se frequentam baladinhas -, Maradona acaba sendo um símbolo de espontaneidade. É exatamente esse aspecto incoerente que me atrai: ao mesmo tempo em que ficou marcado por uma vida pessoal atrapalhada, Dieguito fez milagres em campo. Fez história. Simplesmente assim. Espontâneo.

Beijos, Maradona! De uma admiradora que não entende nada de futebol, meu amigo. Keep walking.

Toda a magia de 1986. Yo soy Diego.

O ESCRITÓRIO

(a tchurminha.)

Esse vai ser um post simplão. Um top 5 melhores episódios de The office. Completamente subjetivo. E pessoal, aleatório etc. Pode ser que eu mude de ideia na semana que vem.
Mas assim, ó: o ranking pode servir pra quem já é fã do seriado (a gente pode fazer comparações entre rankings e tal). Ou pra quem quer começar a assistir… De qualquer modo, vamos lá. Enjoy.

Quinto lugar: Cafe disco (5a. temporada)
Um dos episódios mais fofos, mesmo. Michael Scott usa uma salinha vazia do prédio de escritórios pra matar tempo, dançar (sozinho, a princípio :~~) e tomar café. “It’s a combo dance house coffee bar.” “It is a daytime disco on the ground floor of an industrial office building.” Todas as cenas com dancinhas são ótemas. Até EU queria uma salinha vazia pra mim. Eu ficaria dançando ao som do tema de abertura de Fresh Prince of Bel-Air, provavelmente. Tomando chá gelado etc.

Quarto lugar: Local ad (4a. temporada)
A Dundler Mifflin decide fazer anúncios pra televisão. O pessoal de Scranton faz um comercialzinho próprio. Esse episódio funciona tão, tão bem… especialmente pelas musiquinhas criadas: “Out of paper…. out of stock… there’s friendly faces around the block.. break loose of the chains…. that are causin your pain…” E é aqui que Dwight aparece jogando Second Life. Rola uma coisa toda nerd e tal. Beijo, Dwight!

Terceiro lugar: The alliance (1a. temporada)
Um episódio bem bom da primeira temporada (aliás, a primeira e a segunda temporadas são ótemas, obras de arte, mesmo). É quando percebemos totalmente a dinâmica Jim-Dwight-Pam. “Do you want to form an alliance with me?” “Absolutely I do.”

Segundo lugar: Email surveillance (2a. temporada)
É aqui que Michael aparece fazendo IMPROV CLASSES. É tão algo e fofo. Todas as características marcantes desse personagem são encontradas aí: a solidão, a incapacidade de trabalhar em grupo, a falta de desconfiômetro… E Jim faz uma festinha-karaokê em casa. “My roommate wants to meet everybody. I’m pretty sure he thinks I’m making Dwight up. He is very real.”

Primeiro lugar: Drug testing (2a. temporada)
Um episódio bem memorável. Dwight vestido de “voluntário da polícia”, com uniforme, chapéu, etc. pra investigar o caso do baseado encontrado no estacionamento da firma… “Dude, where’s my office? I totally lost it…because I was half-baked, smoking doobies. Doobie Brothers. Smoking doobies with my brothers…Peace out, Seacrest!”

E o prêmio para o primeiro lugar é… um gif animado! (L)

(sou uma grande fã de gifs animados.)

SOBRE COISAS BOAS QUE DURAM POUCO

(Angela Chase, the one and only.)

Em 1996 eu ainda morava no interior (só fui começar a morar em São Paulo em 1997). Considerava Pixies a banda favorita da vida e já tinha tv a cabo em casa. Por isso, eu via muita televisão, em especial três programas: Monty Python’s Flying Circus, Kids in the Hall e My so-called life. Muito daquilo que sou hoje eu devo a esses programas, acho (tchan-raaan, momento emotivo). Não sei se eu conseguiria apreciar Seinfeld, por exemplo, sem os ensinamentos apreendidos com as tiradas da comédia inglesa. Tudo está interligado. É o ciclo da vida. Marcas do passado. Mas enfim.

My so-called life se chamava Minha vida de cão. Teve duração curta (1994-5). Eu tenho certa tendência a gostar de coisas que são abruptamente cortadas, que acabam de uma hora pra outra, sabe? Sinceramente acho perfeito o fato dessa série ser constituída somente de uns vinte episódios. Está tudo lá. Em uma belíssima e singela temporada. O cotidiano da Angela Chase e dos seus amigos, toda a belezinha do Jordan Catalano, a fofurice de sr. e sra. Chase. Só o simples fato de Angela ser apaixonadinha por um rapaz DU MAL e com pinta de rockstar, ao mesmo tempo em que ela própria, Angela, era uma garota aparentemente “comportada”, já mostra a relativa complexidade do enredo. A trilha sonora do seriado também era boa (especialmente naqueles tempos do “alternativo anos 90”): Juliana Hatfield, Buffalo Tom, Afghan Whigs.

Pra mim, é mais ou menos assim que funciona: quando algo é “interrompido”, de uma hora pra outra, é porque tem coisa boa ali no meio. Eu me lembro de ouvir, à época, que My so-called life era muito “culto” e não combinava com a programação de tv (a wikipédia também tem essa teoria). Em razão disso o seriado havia sido cortado etc. Bom, sorte nossa. Prefiro um seriado de qualidade com vida curta, porém “perfeita”, ao invés de um que se arrasta por nove, dez temporadas. Às vezes, quanto mais a coisa se arrasta, menos ela tem a nos dizer e menor é seu significado (isso também poderia valer para relacionamentos… preciso refletir mais sobre o assunto).

Estou quebrando a cabeça pra me lembrar de outras coisas boas que duraram pouco tempo (só pra tentar dar algum sentido à minha teoria). Acho que o próprio Monty Python’s Flying Circus é um bom exemplo, já que é um seriado meio perfeito e foi produzido entre 1969 e 1974. Posso ir além (uia!) e dizer que a fase áurea de Pixies foi entre 1985 e 1993. Ou seja, curta. Mas isso, claro, não é regra. É só uma teoria boba.

(Suspiros saudosistas.)

UM ESCRITOR MUITO TCHANS

por Renata Consegliere

A capa original (a brasileira é diferente). Achei essa tão legal.

Então eu estou querendo comprar um notebook. Porque já faz um século que vivo sem internet em casa e é horrível, não dá pra ficar nerdeando de noite nem nada. Eu até tenho um computador brancão, clássico, de 1996, mas o bendito não é nada funcional e está totalmente parado. Adiós, hein. (Se bem que esse computador brancão old school é fofo. Ele foi muito usado em 1996-7 pra abrir os disquetes com as letras das músicas do Sonic Youth que meus miguxos copiavam e salvavam pra mim. :~ )

O fato é que minha vida cultural está um pouco zoneada. Eu tenho visto muita televisão e isso é podre. Um notebookzinho maneiro me ajudaria a entrar nos eixos. Inclusão digital, modernidade. Passarei a consumir coisas mais legais. Culturalmente falando. Afinal né.

Eu estava pensando nisso, outro dia. Em como dicazinhas legais e chuchus em blogs simpáticos nos levam a conhecer quadrinhos, filmes, livros e música que podem salvar a nossa semana. Coisas boas, mesmo. Que até poderiam chegar pra gente de outro jeito e tal. Mas que nos alcançam e nos tocam de uma maneira bacana, que é a maneira dos blogs. Eu conheci um escritor muito tchans chamado Haruki Murakami, por exemplo, por causa dos amicos de blog (foi no torpor, se não me falha a memória). O primeiro livro dele que eu li foi Norwegian Wood. O segundo foi Minha querida Sputnik. Depois disso vieram outros e mais outros.

Eu me lembro tão bem de estar lendo Norwegian Wood em 2006. Foi a primeira vez que entrei em contato com essa coisa de literatura pop japonesa mega cool e blasé. Existe um lance extremamente surreal e meio que fantástico nos escritos do Murakami, ao mesmo tempo em que tudo é amarrado por uma história super concreta, quase pé no chão. Personagens delicados demais, por vezes solitários e com milhares de preocupações. Em alguns momentos Murakami cita uma canção dos Beatles. Vez ou outra, faz descrições belíssimas das comidinhas preparadas pelos personagens. Altos recomendo.

Me lembrei agora de um outro livro bacanudo que se encaixa nessa categoria “literatura pop japonesa mega cool e blasé”. É o Kitchen, da fofa Banana Yoshimoto. Eu também ouvi falar dessa escritora por blog. Dos amicos. Veja você.

CLUBINHO

por Renata Consegliere

 
(Sempre que leio “Gilmour”, eu enxergo “Gilmore girls”)

 

Eu estava andando pelo terminal rodoviário Tietê, num sábado desses. Pensando em quem diabos inventou o Chatroulette, tecendo considerações a respeito do meu coração de pedra e imaginando se algum dia eu conseguirei cortar meu próprio cabelo sozinha. Acabei entrando numa daquelas livrarias. Que vendem quilos de livros pelos olhos da cara. Comprei três, assim, de prima. Um deles era aquele lá, chamado O clube do filme (de David Gilmour). E esse livro eu meio que amei.

A proposta é algo e etc. O pai deixa seu filho de quinze anos sair da escola. Com a condição de assistirem, juntos, a um montão de filmes selecionados pelo pai (na base de três filmes por semana, acho). Na verdade, O clube do filme entrou na minha categoria intitulada “coisas do Canadá que eu admiro bastante”, bem ao lado de Arcade fire e de Kids in the hall.

Além da loucura envolvendo a interrupção do ensino formal e as consequências disso pro próprio adolescente (algo que só poderia acontecer num país como o Canadá, convenhamos), o livro tem essa coisa da “lista”. Todos os filmes assistidos pelo pai e pelo filho estão listadinhos no final, em ordem alfabética, e é uma delícia porque você pode pegar aquilo e fazer um planejamento só seu. Eu fiquei morrendo de vontade de ver alguns, tipo Bonequinha de luxo e Noivo neurótico, noiva nervosa. Outros que aparecem na lista eu já vi acho que um milhão de vezes, como Veludo azul (\o/), Apocalypse now e O poderoso chefão I. Mas assistiria a todos de novo, só por causa do livro.

Enfim, muito recomendo. E outra: a historinha em volta do cotidiano do filho é bacana. O moleque fica lá, meio perdidão, pirandinho nos filmes, sofrendo com as suas paquerinhas naquele clima de “quem eu quero não me quer” (oi!) e isso traz vitalidade pro enredo todo.

Hoje é sexta-feira santa e muito provavelmente ficarei zanzando pelo terminal Tietê, de novo. Esperando pelo horário do meu ônibus, matando tempo  e pensando em coisas importantes, tipo na configuração espacial da casa do BBB e no Mudhoney que vem aí pra virada cultural. Espero encontrar um livrinho bacana mais uma vez.

MRS. ROBINSON, I CAN’T DO THIS ANYMORE

The graduate (\o/)

O filme começa com Benjamin Braddock chegando de viagem. Ele está numa daquelas esteiras de aeroporto, deslizando. Sendo levado. Simbolicamente levado pela vida, eu acho. Ele não se mexe, só fica ali, parado. Como se estivesse sendo carregado. E é uma sequência linda, linda. A música de fundo é The sound of silence. People talking without speaking e tals.

Eu sou um pouco doida por esse filme, A primeira noite de um homem (1967). Gosto mesmo. Uma das razões está nesse personagem tão singular, o Benjamin Braddock (Dustin Hoffman gatzinho, xxovem, em boa forma). Outra razão reside na trilha sonora, acho. As músicas são sempre do Simon & Garfunkel, fofas, fofas.

Braddock acabou de se formar na faculdade e volta para a casa dos pais. Ele está sofrendo com toda uma indecisão profissional, todo um vazio. Na verdade, ele meio que não tem nada pra fazer. Eu sempre fico achando tão interessante isso dele estar num “não-lugar”. Há cenas lindas, lindas, de Braddock literalmente boiando na piscina dos pais, tomando sol. Ele não está nem fora e nem dentro da água, ele só fica lá, na superfície. Sofrendo e se contradizendo e refletindo, no “não-lugar” dele. People writing songs that voices never share.

É claro que Braddock cresce ao longo do filme. Em diversos momentos, ele se posiciona. Inclusive colocando outras pessoas no meio do seu processo de crescimento. De todo modo, pra mim, a parte mais importante do filme é a que trata do “não-lugar”.

Eu via muito esse filme em 2002, numa época de bastante tempo livre e blá. O velho e bom Braddock me caía como uma luva. Era eu, ali, boiando na piscina, sabe? Hoje as coisas mudaram e o “não-lugar” da minha vida foi substituído por outra coisa. Mas a delicadeza desse filme ainda me impressiona. Isso sem contar com a elegatééérrima Anne Bancroft. Quer aprender a segurar um cigarro? Observe a senhora Robinson. Quer aprender a se vestir? Olhe pras roupas dela. É incrivel.

The graduate (lego \o/)

#davidsedaris E MINHA MÃE

por Renata Consegliere

Então eu estava lá. Na casa da minha mãe. Ocupadíssima. Com meu sobrinho #2. Tentando escolher entre a tatuagem de FLAMES ou a TRIBAL pra colocar no braço do homenzinho do The Sims. Foi quando minha mãe veio chegando, meio animada, elogiando um livro do Fernando Sabino que eu havia dado a ela, de presente, na semana anterior. Fofa.

Minha mãe realmente adora ler. Faz tempo que eu tenho cultivado o hábito de comprar ou emprestar livros pra ela. Uns cinco anos, mais ou menos. Ela já se apaixonou por Paul Auster, já riu deveras com David Sedaris, já ficou horrorizada com Moacyr Scliar e já pirou um tanto com “os melhores contos latino-americanos do século XX”. O engraçado é que, para além do prazer da leitura, o consumo desenfreado de livros pela minha mãe sempre vem acompanhado por uma preocupação com a saúde mental. “Veja bem, minha filha: eu preciso ler para EXERCITAR meu cérebro, para estimular a mente”. Essa é a minha mãe. Uma grande fazedora de palavras cruzadas, também, vale dizer.

Mas o que eu queria elogiar, mesmo, é esse moço. David Sedaris. Além de escritor competente, ele é meio que humorista. E tem um programa de rádio. Ao que parece, fazia stand up lá pelos Estados Unidos. Seus livros são sempre organizados em pequenos contos. Todos, sempre, autobiográficos. E com muito, muito humor. Existe todo um contexto familiar nos relatos dele, toda uma coisa “eu era loser no colégio” e um lance “eu nem tenho profissão definida, mas trabalhei durante muitos anos como limpador de carpetes”.

Esse livro dele, Eu falar bonito um dia, é uma joia. Me agrada muito quando o autor descreve situações bizarras e sentimentos nos mínimos, mínimos detalhes, e Sedaris faz isso. A coisa fica boa a cada página, e melhora quando ele começa a viajar com frequência para Paris, com o namorado. A cena em que ele anda pelas ruas parisienses ouvindo uma fita cassete didática sobre o tema francês médico de bolso é algo genial.

Ah, e lembrando. Quem me presenteou com o exemplar de Eu falar bonito um dia foram os miguxões Angélica (colaboradora deste amazing blog) e Jaime (um “sem blog”, eu diria). Pra você ver. Presentinhos assim melhoram muito a vida de uma pessoa. Pollyanna feelings. Sinceros.